Farmacologia

    O controlo da libertação de fármacos em sítios de acção específicos, através da utilização de transportadores capazes de permitir a optimização da velocidade de cedência e do regime de dosagem das substâncias, tem sido uma área de intensa pesquisa nos últimos anos.

    Entre os transportadores, incluem-se as micropartículas e nanopartículas. As nanopartículas, constituídas por polímeros biodegradáveis, têm atraído maior atenção devido às suas potencialidades terapêuticas, à maior estabilidade nos fluidos biológicos e durante o armazenamento.

    O encapsulamento de fármacos em nanopartículas é de extrema importância. Os fármacos em geral são pequenos o suficiente para atravessar o endotélio em todas (ou quase todas) regiões do corpo, afectando as regiões afectadas e não afectadas pela doença. Isto origina muitos dos efeitos secundários dos medicamentos, porque os fármacos acabam por actuar onde devem e "não devem". Contudo, se estes se encontrarem encapsulados dentro de nanopartículas de 50 a 300 nm (em média), não serão capazes de atravessar a parede dos vasos em regiões sadias do organismo, visto que o espaço entre essas células é de apenas 15 a 30 nm.

    As nanopartículas poliméricas são transportadores de fármacos que apresentam diâmetro inferior a 1 µm (micrómetro). O termo nanopartícula inclui as nanocápsulas e as nanoesferas, as quais diferem entre si segundo a composição e organização estrutural. As nanocápsulas são constituídas por um invólucro polimérico disposto ao redor de um núcleo oleoso, podendo o fármaco estar dissolvido neste núcleo e/ou absorvido na parede polimérica. Por outro lado, as nanoesferas, que não apresentam óleo na composição, são formadas por uma matriz polimérica, onde o fármaco pode ficar retido ou absorvido.

(A) esfera; (B) cápsula

    Estes sistemas de transporte têm sido desenvolvidos visando inúmeras aplicações terapêuticas, sendo planeados, principalmente, para administração oral, parenteral ou oftálmica.

    Um das áreas mais promissoras na utilização de nanopartículas é o transporte de fármacos anticancerígenos e de antibióticos, principalmente através de administração parenteral, permitindo uma distribuição mais selectiva dos mesmos e, assim, um aumento do índice terapêutico.

    Em relação à administração oral de nanopartículas, as pesquisas têm sido feitas com objectivo de diminuir os efeitos colaterais de certos fármacos, que podem causar irritação frequente na mucosa gastrointestinal; proteger fármacos que são degradáveis no ambiente gastrointestinal, aumentando a biodisponibilidade dos mesmos.

    Outro grande interesse é a administração oftálmica, com objectivo de controlar a libertação de fármacos, aumentar a biodisponibilidade ocular e/ou diminuir os efeitos colaterais devido à absorção sistémica de certos fármacos.

    Uma alternativa viável e promissora de veicular fármacos é a via de administração transdérmica (administração sistémica de fármacos através da pele). Esta via oferece uma variedade significativa de benefícios clínicos, tais como: manutenção dos níveis sanguíneos constantes para fármacos com reduzida margem terapêutica, que reduz os efeitos secundários; aumento da biodisponibilidade do fármaco e, como tal, uma menor quantidade é administrada; via de administração não invasiva, uma alternativa às vias parenteral, oral e oftálmica; melhor adesão à terapia, uma vez que reduz o número de doses tomadas e a administração é feita de forma conveniente e sem dor; facilidade em finalizar o tratamento caso ocorram reacções adversas.

    No entanto, para que exista o efeito terapêutico, é necessário que o fármaco transportado através da pele atinja a corrente sanguínea em quantidades adequadas. Neste sentido, é preciso uma estratégia que permita aumentar a permeabilidade dos fármacos.       

  A estratégia consiste em recorrer a nanopartículas transportadoras, tais como as nanopartículas lipídicas sólidas (solid lipid nanoparticles, SLN's) e a transportadores lipídicos nanoestruturados (nanostructured lipid carriers, NLC's) considerados nanopartículas de segunda geração. 

    Este tipo de transportadores permite aumentar a penetração de fármacos na pele, em função das suas propriedades adesivas e oclusivas. O seu reduzido tamanho e, consequentemente, a elevada área de superfície permitem estabelecer um contacto próximo com a camada córnea, promovendo um efeito oclusivo e aumentando assim a biodisponibilidade dos fármacos na pele.

    No entanto, relativamente aos métodos de produção deste tipo de nanopartículas, a homogeneização por elevada pressão consiste no método mais utilizado, pela rapidez de produção, por evitar a utilização de solventes na sua preparação, apresentando a vantagem da facilidade em transpor para a escala industrial. A Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra dispõe actualmente de um homogeneizador com esta potencialidade.

     A utilização de transportadores lipídicos como sistemas de administração transdérmica de fármacos parece ser uma alternativa muito promissora e de grande potencial. Pela nanobiotecnologia está previsto que esta levará ao melhoramento do diagnóstico de doenças, levando a melhores tratamentos. Também se mostra promissor em aumentar a eficiência do processo de desenvolvimento de fármacos.

    A libertação controlada de fármacos representa uma das fronteiras da ciência, a qual envolve diferentes aspectos multidisciplinares e pode contribuir muito para o avanço da saúde humana. Os sistemas de libertação através das nanopartículas oferecem inúmeras vantagens quando comparados a outros de dosagem convencional.

  As evidências relativamente a estes sistemas são as seguintes:

  • Maior eficácia terapêutica, com libertação progressiva e controlada do fármaco, a partir da degradação da matriz;
  • Diminuição significativa da toxicidade e maior tempo de permanência na circulação;
  • Natureza e composição dos veículos variada e, ao contrário do que se poderia esperar, não há predomínio de mecanismos de instabilidade e decomposição do fármaco;
  • Administração segura (sem reacções inflamatórias locais) e conveniente (menor número de doses);
  • Direccionamento a alvos específicos, sem imobilização significativa das espécies bioactivas;

    Actualmente, o leque de fármacos incorporados neste tipo de sistemas começa a alargar-se.