Sistema nervoso central

    O Sistema nervoso central (SNC) é formado pelo encéfalo, alojado na caixa craniana, e pela espinal medula. As propriedades especiais da parte central do sistema nervoso residem em complexas interconexões de neurónios, nas quais surgem os padrões apropriados de respostas aos estímulos provenientes do meio externo e interno.

    O encéfalo é formado pelo cérebro, cerebelo e bolbo raquidiano.

    A espinal medula actua como uma espécie de intermediário entre o sistema nervoso periférico (SNP) e o sistema nervoso central (SNC) e possui muitas fibras nervosas dispostas em conjuntos, que controlam os músculos e os orgãos internos. Recebe, através dos nervos sensitivos, informações sobre a temperatura, dor, tacto, tensão muscular e posição das articulações, podendo esta ser transportada até ao cérebro, através dos axónios, de forma a estimular conscientemente a informação ou então essa informação, depois de entrar na medula, pode ser utilizada para controlar a tensão muscular ou estimular respostas reflexas (actos involuntários, imediatos, produzidos de forma inconsciente). Por exemplo, quando tocamos em algum objecto quente retiramos automaticamente a mão num acto reflexo. Num acto reflexo quatro acções são desencadeadas: a recepção, condução, transmissão e resposta. O sistema nervoso central intervém em todas elas.

    Doenças

    Doenças que envolvem qualquer componente do cérebro ou a espinal medula.

    Acidente vascular cerebral (AVC)

     É um distúrbio grave do sistema nervoso. Pode ser causado tanto pela obstrução de uma artéria, que leva à isquemia (suspensão da circulação local do sangue) de uma área do cérebro, como por uma ruptura arterial seguida de derrame. Os neurónios alimentados pela artéria atingida ficam sem oxigenação e morrem, estabelecendo-se uma lesão neurológica irreversível. A percentagem de óbitos entre as pessoas atingidas por AVC é de 20 a 30% e, dos sobreviventes, muitos passam a apresentar problemas motores e de fala.

     Alguns dos factores que favorecem o AVC são a hipertensão arterial, a elevada taxa de colesterol no sangue, a obesidade, a diabetes, o uso de pílulas anticoncepcionais e o hábito de fumar.

    Actualmente, terapia com medicação é o tratamento mais comum para o AVC. Derrames cerebrais isquémicos, o tipo mais comum, podem ser tratados com medicamentos trombolíticos. Esses medicamentos interrompem o derrame ao dissolverem o coágulo sanguíneo que bloqueia o fluxo de sangue no cérebro. Porém, a pessoa precisa de recorrer ao hospital o mais rápido possível depois dos primeiros sintomas do AVC para avaliação e tratamento. Uma vez que os medicamentos trombolíticos podem elevar ao sangramento, eles devem ser usados somente, depois de o médico ter a certeza que o paciente sofre ou sofreu um derrame cerebral isquémico e não um hemorrágico.           

     Epilepsia

     A epilepsia é uma alteração na actividade eléctrica do cérebro, temporária e reversível, que produz manifestações motoras, sensitivas, sensoriais, psíquicas ou neurovegetativas. Os ataques epilépticos aparecem, na maioria dos casos, antes dos 18 anos de idade e podem ter várias causas, tais como: anomalias congénitas, doenças degenerativas do sistema nervoso, infecções, lesões decorrentes de traumatismo craniano, tumores cerebrais, etc.

    Actualmente, o tratamento da epilepsia é realizado através de medicações que possam controlar a actividade normal dos neurónios, diminuindo as cargas cerebrais anormais. Existem medicamentos de baixo custo e com poucos riscos de toxicidade. Geralmente, quando o neurologista inicia o tratamento com um medicamento, só após atingir a dose máxima do mesmo, é que se associa a outro, caso não haja controlo adequado da epilepsia. Mesmo com o uso de múltiplas medicações, pode não haver controlo satisfatório da doença. Neste caso, pode haver indicação de cirurgia. Ela consiste na extracção da parter lesionada ou das conexões cerebrais que levam à propagação das descargas anormais. O procedimento cirúrgico pode levar à cura, ao controlo das crises ou à diminuição da frequência e intensidade das mesmas.     

     Cefaleias

     A cefaleia é o termo usado para descrever qualquer dor que ocorra numa ou mais áreas do crânio (face, boca ou pescoço). A cefaleia pode ser crónica, recorrente ou ocasional. A dor pode ser leve ou intensa, o suficiente para afectar as actividades diárias. A dor é causada por estímulos na rede de fibras nervosas dos tecidos, músculos e vasos sanguíneos da cabeça e da base do crânio.

    Actualmente, o tratamento das dores de cabeça é feito com analgésicis comuns de uso diário, dosados pelo médico de acordo com a gravidade dos sintomas. Nas cefaleias emocionais, pode ser indicada a psicoterapia.

    Doenças degenerativas do sistema nervoso

    Existem vários factores que podem causar morte celular e degeneração. Esses factores podem ser mutações genéticas, infecções virais, drogas psicotrópicas, intoxicação por metais, poluição, etc. 

    As doenças nervosas degenerativas mais conhecidas são a esclerose múltipla, a doença de Parkinson, a doença de Huntington e a doença de Alzheimer.

    Esclerose múltipla

    É uma doença neurológica que se declara entre os 20 e os 40 anos e que se caracteriza pela destruição focal de componentes do sistema nervoso. Essas lesões são provocadas por linfócitos T ou por mediadores químicos libertados pelo sistema imunitário (doença auto-imune). Os diversos tipos de sintomas neurológicos (por exemplo, pertubações sensitivas, formigueiros, falta de acuidade visual, desequilíbrio, dificuldades motoras nos membros inferiores, etc.) alternam com períodos de remissão, mas, por vezes, as crises deixam sequelas.

    Actualmente, o tratamento consiste  em actuar de forma a atrasar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida do paciente através do alívio dos sintomas. A administração de corticosteróides (imunossupressores potentes) é usada em casos de episódios ou relapsos agudos. Outros imunossupressores como os análogos das purinas (azatioprina, por exemplo) também têm tido resultados. A terapia com beta-interferon (que tenta diminuir a resposta dos linfócitos, com menor produção de anticorpos) tem apresentado resultados satisfatórios a uma faixa de 30%-50% dos pacientes.

    Em 2010 foi aprovado pelo FDA o primeiro medicamento via oral para tratamento da doença, o fingolimod.    

    Doença de Parkinson

    Manifesta-se, geralmente, a partir dos 60 anos de idade e é causada por alterações nos neurónios que constituem a "substância negra" e o corpo estriado, dois importantes centros motores do cérebro. A pessoa afectada passa a apresentar movimentos lentos, rigidez corporal, tremores incontroláveis, além de acentuada redução na quantidade de dopamina (substância neurotransmissora fabricada pelos neurónios do corpo).

  Até ao momento, a doença de Parkinson não tem cura e o tratamento baseia-se no alívio dos sintomas. A levodopa (L-DOPA) é o medicamento mais eficaz. É uma droga precursora da dopamina, e actua repondo as reservas esgotadas desta. A levodopa actua melhorando os três sintomas fundamentais: rigidez, bradicinesia (perda de movimentos) e tremor. Deve ser administrada junto com a carbidopa, que impede que a levodopa seja metabolizada nos diferentes tecidos, aumentando sua disponibilidade ao nível do sistema nervoso central. Também podem ser utilizados outros medicamentos, como os anti-histamínicos e os antidepressivos.

    Doença de Huntington

    Começa a manifestar-se por volta dos 40 anos de idade. A pessoa perde progressivamente a coordenação dos movimentos voluntários, a capacidade intelectual e a memória. Esta doença é causada pela morte dos neurónios do corpo estriado. Pode ser hereditária, causada por uma mutação genética.

     Não há nenhum tratamento para impedir completamente a progressão da doença, mas certos sintomas podem ser reduzidos ou aliviados através da utilização de medicação e métodos cuidados.

    Medicação: Os especialistas receitam medicamentos, de acordo com os sintomas de cada um, para aliviar sintomas de maneira a que diminuam, mas existem efeitos colaterais causados pelos químicos como garganta seca, vertigens, etc.

    Nutrição: A nutrição é um papel importante no tratamento. A maioria das pessoas que sofrem da doença precisa de conselhos de um nutricionista. Normalmente, observa-se um emagrecimento intenso mesmo seguindo dietas equilibradas.

     Doença de Alzheimer

     Esta doença manifesta-se por volta dos 50 anos e caracteriza-se por uma deterioração intelectual profunda, desorientando a pessoa que perde, progressivamente, a memória, as capacidades de aprender e de falar. Esta doença é considerada a primeira causa de demência senil. A expectativa média de vida de quem sofre desta moléstia é de 5 a 10 anos, embora actualmente muitos pacientes sobrevivam por 15 anos ou mais. A doença provoca alterações em diversos grupos de neurónios do cortex-cerebral. É uma doença hereditária.

    Não existe uma prevenção possível para esta doença. Só um tratamento médico-psicológico intensivo do paciente, que visa mantê-lo o maior tempo possível em seu tempo normal de vida. Com a ajuda da família e a organização de uma assistência médico-social diversificada é possível retardar a evolução da doença.

     Actualmente, nenhuns dos tratamentos comprovados melhoraram significativamente as pessoas que padecem desta doença. Todos os esforços estão dirigidos ao alívio dos sintomas, utilizando distintos medicamentos à medida que os sintomas surgem.

 Doenças infecciosas do sistema nervoso

    Vírus, bactérias, protozoários e vermes podem parasitar o sistema nervoso, causando doenças graves que dependem do tipo de agente infeccioso, do seu estado físico e da idade da pessoa afectada.

    Diversos tipos de vírus podem atingir as meninges (membranas que envolvem o sistema nervoso central), causando as meningites virais. Se o encéfalo for afectado, fala-se de encefalites. Se a espinal medula for afectada, fala-se de poliomielite. Infecções bacterianas também podem causar meningites.

    O protozoário Plasmodium falciparum causa a malária cerebral, que se desenvolve em cerca de 2 a 10% dos pacientes. Destes, cerca de 25% morrem em consequência da infecção. O verme platelminto Taenia solium (a solitária do porco) pode, em certos casos, atingir o cérebro, causando eisticercose cerebral. A pessoa adquire a doença através da ingestão de alimentos contaminados com ovos de ténia. Os sintomas são semelhantes aos da epilepsia.

     Estas doenças atacam fortemente o sistema nervoso, são muito complexas e exigem o respectivo tratamento, caso contrário podem levar à morte.

    Actualmente, o tratamento consiste numa alimentação cuidade e na administração de antibióticos específicos para as diferentes patologias.

 A nanomedicina no tratamento das doenças do sistema nervoso

    Uma das esperanças da nanomedicina no tratamento das doenças neurodegenerativas, entre outras, reside na capacidade das nanopartículas (lipossomas) ultrapassarem a chamada barreira hemato-encefálica (estrutura membranosa que actua principalmente na protecção do sistema nervoso central contra substâncias químicas presentes no sanguem, permitindo ao mesmo tempo a função metabólica normal do cérebro) e possibilitar, por exemplo, uma terapia génica ao nível do sistema nervoso central.

     Com a utilização das nanopartículas, será possível fazer chegar ao cérebro os fármacos (incorporados em lipossomas), infiltrando a barreira hemato-encefálica, e ainda a utilização de microcápsulas de células modificadas geneticamente, produtoras de diferentes substâncias terapêuticas, o que suporta uma plataforma tecnológica que permite uma ampla gama de aplicações a nível clínico e terapêutico em diferentes tratamentos.

     Apesar de os lipossomas serem de natureza hidrofóbica, o mecanismo pelo qual eles atravessam a barreira hemato-encefálica não é totalmente compreendido. No entanto, o transporte feito pelos lipossomas é realizado presumivelmente por difusão passiva através das células endoteliais lipofílicas, por endocitose ou por fusão com células endoteliais capilares do cérebro.